sábado, 28 de novembro de 2009

A situação de Dubai serve de alerta ao excesso de otimismo nos mercados...

- A semana que passou proporcionou certa volatilidade nos mercados, bastante influenciada pela notícia da moratória em Dubai. Para entender um pouco mais sobre o que está ocorrendo, é bastante esclarecedora uma reportagem da Revista Piauí (acesse aqui ) que tem o título sugestivo “Rachaduras no Paraíso”; foi publicada em abril/09, mas vale a pena a leitura. Outra reportagem interessante é do Portal Exame (acesse o link aqui ), com uma entrevista com o ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas.
Abaixo, um breve resumo abordando as duas reportagens:


O xeque Mohammed bin Rashid Al Maktoum, soberano de Dubai, aparece a cada dois arranha-céus do emirado. Ele vendeu Dubai ao mundo como a cidade das Mil e Uma Luzes, uma Shangri-lá do Oriente Médio protegida das tempestades de areia que assolam a região. Sua imagem domina a silhueta que imita a de Manhattan, radiante entre as pirâmides de vidro e os hotéis construídos em forma de moedas de ouro empilhadas. Convidou o mundo a seu paraíso fiscal - e o mundo veio, esmagando os habitantes locais, que agora representam só 5% da população total de Dubai. Em apenas três décadas uma cidade inteira surgiu do nada.

Existem três Dubais diferentes, cada um girando em torno dos outros dois. Há os expatriados ocidentais, os árabes nativos ou dubaienses, liderados pelo xeque Mohammed, e a mão de obra estrangeira, que construiu a cidade e ali ficou presa. Essa última permanece invisível, apesar de estar por toda parte, enfiada em uniformes azuis e seguindo um regime de trabalho forçado, mão de obra escrava que construiu Dubai.

Pode-se dizer que o emirado transformou-se numa "creditópolis" sustentada por contas que não fecham, com 107% de seu PIB comprometidos com dívidas a pagar. Não fosse o socorro que recebe do vizinho Abu Dhabi, cujo solo esbanja petróleo, Dubai já teria falido. A despeito dos fatos, já existe uma lei de imprensa que proíbe os veículos de comunicação de divulgar qualquer notícia que possa "prejudicar a imagem ou a economia" de Dubai.

O arquipélago artificial The World, ainda em construção, que forma o desenho do mapa-múndi, está vazio. Foi abandonado. Foram criadas ilhas artificiais na forma das massas terrestres do planeta, com planos de vender cada "continente" como terreno para futuras edificações. Havia rumores de que o casal Beckham compraria a "Inglaterra". Mas quem trabalha próximo ao megaempreendimento conta que há meses não vê movimento na obra. "O mundo acabou", diz um sul-africano, aproveitando o trocadilho.

Por toda a cidade, projetos delirantes que antes estavam "em obras" agora estão em ruínas. Os projetos concluídos um pouco antes da crise estão vazios e malconservados. Um exemplo é o do hotel Atlantis, cujo festão de inauguração consumiu 20 milhões de dólares e atraiu celebridades como Robert De Niro; localizado numa ilha artificial em forma de palmeira, o hotel hoje parece um imenso sorriso banguela. O saguão central é uma cúpula monumental coberta com bolas cintilantes, sustentada por oito palmeiras de concreto. Bem no meio há uma estrutura de vidro reluzente em forma de intestino. Mas chove lá dentro: a água vaza do telhado e os azulejos estão caindo.

No desabafo de uma atendente filipina (entrevistada da reportagem da Revista Piauí), que trabalha em um fast food local, ela diz o seguinte: "Demorei alguns meses para perceber que tudo aqui é falso. Tudo. As palmeiras são falsas, os contratos de trabalho são falsos, as ilhas são falsas, os sorrisos são falsos. Dubai é como uma miragem. Você acha que avistou água, mas quando chega perto vê que é só areia."

O governo de Dubai superestimou seu potencial da moratória; a Dubai World tem nada menos do que 59 bilhões de dólares em débitos, mas o endividamento total do Emirado chega a 80 bilhões de dólares.

A moratória de Dubai é, segundo informações, decorrente de uma falta pontual de recursos, e não de um problema de confiança generalizado. Segundo o Banco Morgan Stanley (minimizando o efeito da crise no emirado em relatório), Dubai representa cerca de 5% do tamanho da economia chinesa. O banco afirma, ainda, que a notícia mais importante para os mercados emergentes agora não é Dubai, mas a conclusão da reunião anual sobre política econômica da China, indicando que o estímulo econômico será mantido em 2010. No entanto, não custa lembrar que, em 1998, a crise russa foi detonada também por uma renegociação de dívidas, como Dubai está fazendo...mas provavelmente essa moratória poderá afetar o mercado de capitais de países com fundamentos piores.

O megainvestidor americano Mark Mobius afirmou que Dubai pode levar a uma desvalorização de até 20% das bolsas de todo o mundo. O HSBC é o banco mais exposto ao risco de ter perdas com a atual situação de crise em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Segundo matéria publicada pela Bloomberg, os empréstimos e adiantamentos do HSBC a clientes nos Emirados Árabes totalizaram 15,9 bilhões de dólares ao fim do primeiro semestre de 2009, enquanto os depósitos ficaram em 19,3 bilhões de dólares no período. Tanto a turbulência em Dubai como as notícias da exposição do HSBC fizeram os papéis da companhia cair 7,6% na bolsa de Honk Kong.

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